Quando Le Consentement chegou às livrarias, em 2020, causou grande alarido. Este relato autobiográfico de Vanessa Springora recorda a sua adolescência, passada "numa relação", ou melhor, sob o domínio do escritor Gabriel Matzneff, 36 anos mais velho que ela. Em 2023, o livro foi adaptado ao ecrã por Vanessa Filho(Gueule d'ange), com um irreconhecível Jean-Paul Rouve no papel do escritor. Estreado nos cinemas em outubro passado, o filme é transmitido pela primeira vez no Canal+ esta terça-feira, 30 de abril de 2024.
E no papel de Vanessa Springora, há várias actrizes para encarnar as diferentes idades da jovem: Kim Higelin como a adolescente, e Elodie Bouchez como a adulta. Laetitia Casta completa o elenco.
A nossa opinião
Que contributo pode o cinema dar a uma história destas? É uma pergunta legítima quando se lê o relato profundamente comovente de Vanessa Springora sobre a relação entre a adolescente de 14 anos e Gabriel Matzneff, um conhecido escritor na casa dos 50 anos. O filme de Vanessa Filho segue fielmente o enredo do romance, o encontro entre a jovem e o escritor, em meados dos anos 80, e o desenvolvimento de uma relação de imensa toxicidade, em que Vanessa sofre cada vez mais violentamente com o domínio destrutivo que este predador exerce sobre ela.
O que mais impressiona nesta adaptação são as actuações. Só eles justificam a necessidade de adaptar esta história. Matzneff, interpretado por Jean-Paul Rouve naquele que é certamente o seu melhor papel no cinema, é endeusado pela realização, para sublinhar o seu domínio e o fascínio, depois o terror, que inspira à jovem Vanessa, interpretada pela revelação Kim Higelin, cujo talento é notável.
Dado o tema, o filme é obviamente difícil de ver. Algumas cenas, como a filmagem explícita do ato sexual entre a criança e o homem de 50 anos, são profundamente incómodas. Tanto mais quando este último começa a gabar-se da relação: "Teria ficado tão orgulhoso se toda a gente me tivesse visto com a minha linda menina da escola", diz com confiança. O filme não esconde nada e nunca se mostrou de forma tão explícita as garras de uma relação tão tóxica. O resultado é arrepiante.
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